Ele estava cansado demais para perceber o sorriso. Ela
cantava alguma coisa ali deitada no peito daquele rapaz. Capaz que o cansaço o
deixasse surdo. Mudo, com certeza. Avessa ao silêncio ela cantava. Ele dormia. Ele
acordava. Um casal que testava a paixão vivendo sempre apertados. O dia sempre
longo enaltecia a chegada de toda noite que os unia. Em casa, ele dormia. Na
rua ela sonhava. Sonhava tão distraída que de supetão aconteceu de um dia não
acordar.
Ele estava cansado demais para perceber a própria tristeza.
Ela sorria porque achava engraçado conseguir se sentir tão
cansada.