quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vontades urgentes

-Belas noites me desejo,
[sou sincero]
Mas falta tempo
Falta espaço
Sobra sol, falta mormaço

logo, em dezembro
vou abrir a janela
detalhar o cansaço
[Soltando as mãos]
largando ais
deitar no ar
e nada (há) mais

Daniel Aguiar.

Feedback e Retórica

amor que não cabe nos olhos
não caberá no coração

meus olhos são pequenininhos

- estou só!

Daniel Aguiar

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Poema 44

toda segunda eu penso que é terça
a parte que eu preciso expulsar de mim
para ser completo

toda terça eu sinto que a quarta
corda do cello soa mais
como a vida

toda quarta noite de quinta
eu prometo mudar o programa
(ou o canal, talvez)

toda quinta eu ouço a sexta
de Tchaikovsky com meu corpo
vagando no rar(o)efeito mar de sensações

sábado, sim, é dia de feira

todo domingo sento na cama
como quem não quer nada
e começo a escrever poeminhas de segunda

Daniel Aguiar.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Tan solo hazlo tú

si me ves sombrio por la tarde
no me hagas caso
tómate en broma
mañana que amanezca

desayuno
pensamientos
deux y hay uno
brillando más
una voz

tu voz, tu sombra
tu no estás

la lámpara y el genio
Julieta y la imposibilidad

tu conmigo y no más
dejándose
ahogar en mi halago
sin tu barco
sin que bogues
ser mi hogar

Quádate un poquito más

Daniel Aguiar.

Jacques Bonhome

A vida me grita socorro
Eu olho
Não posso ajudar
Levo um coração jaz partido
Sangrando na espuma do mar
Maltrapilho
Sem açúcar, sem afeto

As luzes convidam honrosas
Para as trevas da noite esconder
Meus olhos cansaram da peça
É tarde
Já não posso ver
Das veias o sangue a verter

A música soa a tempo
Nem me tirei pra dançar
Contrapunctus inversus
E meu catatônico olhar

Senescal vai com a alegria
E a promessa de ver prosperar

O sol não quer refletir
A lua resolveu não ficar

Preto céu

Daniel Aguiar.

Delírio na extenuação (ou, Entusiamo)

Vento carrega
Alma cansada
Luz apagada
Coragem no fim

Finca-pé
Um suspiro
Cierro los ojos
En tus secretos

Na Holanda
Olhando duas moças
Passando
Semitas orando
Bicicletas e... Ah!

Daniel Aguiar.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Le mond tourne lui même

Ontem a manhã me acordou
(brisa, mormaço no fim)
Votos de um bom futuro
Promessas de eu para mim

(VERSO AINDA NÃO ESCRITO)

Que sonhar é fazer
Fazer é tornar
Tornar é reconhecer
Conhecer faz amar

Há males que vem para o bem
(há bens que é preciso deixar)
"laissez faire, laissez passer"
Gira o mundo
Sem parar


Daniel Aguiar.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Aos meus progenitores

De um levo os sonhos
Do outro a sensatez
Assim piso cada passo
Não ando de uma só vez
De um levo a firmeza
Por outro sou pura emoção
Por um vou em meio a massa
Por outro pela observação
De um X levo a vontade
De um Y a precaução
Lado de um... Metade de outro...
Dos dois: pequena porção

Daniel Aguiar. (primavera, 2009)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Decurso

No afago do teu peito
Me deito caído
Traído no próprio descuido
Acudido nesses braços
Veludo

Ver lado a lado escondido
Preso no apresso do peito
Do peito caído
Do peito desfeito
Refeito emoção

Daniel Aguiar.

Temperar o insoso



Daniel Aguiar.

sábado, 28 de maio de 2011

Sem Cessar

ser pensante
ser vivente
ser amante
ser vidente
pra vida vadia
dor vigente passando
vigia vigia
ser suserania
servir ser humano
ser vil é custoso
prazer ledo engano
tedioso séquito
melhor ir voando

Daniel Aguiar

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Acordei, (zumbi em) zombei de mim

Acordei. Costumeiramente montei meu sanduíche de pão sírio, peito de peru e cheddar. Um cappuccino pra acompanhar. Com os olhos já realmente abertos percebo uma estranha sensação. Sinto-me um zumbi, cópia de mim mesmo – sem ato ou reflexo – caminhando pela imensidão arquitetônica, meu cárcere isolante de outros mundos. A janela mostra o quadro ilusório e dinâmico, objeto da minha sedução. Cedo é o pensamento voando, volando por el aire, rarefeito. Pensamentos desfeitos em poesia que agora assopro os versos. Ali mesmo o refugo da alma defenestrei... Longe. Longo passa o tempo. Vendo uma nuvem sorrir a mim – ou seria de mim? – lanço ao universo: quantas horas cabem num segundo? Hesito continuar a contemplação assassina de meus deveres. Olho para trás; para dentro. A solidão dança com os pés soltos pelos curtos aposentos. Tudo é solidão. As fotos já não me conversam. Sigo pelo corredor, sempre à meia-luz, e o bolo na cozinha me chama. Mais uma vez hesito – não quero mais cinco quilos de ansiedade e solidão. A mesa posta de livros aponta meu rosto e grita solista: sente-se querido. E aqui me recolho, pois minhas vontades urgentes não passam ao decote do restante. O solilóquio recomeça.

Daniel Aguiar.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Que no olvido

A dona que se dane
A lua que me instrua
A poesia é quem me cria
Pois
A fome me consome
Se não tenho apetite para saciá-la

Daniel Aguiar

terça-feira, 10 de maio de 2011

domingo, 8 de maio de 2011

No me supistes...

Preciso de ombros
-me empresta?
Acordei sem senti-los
não consigo me suster

Preciso de olhos
-guarda pra mim?
Não quero pô-los
ao menos até a cena mudar

Preciso de boca
-pode me devolver?
Perdi-a toda para ti
Para já não te ver

Preciso esquecer
-me ensina?
Esse parece seu dom:
Piscar e já não se envolver

Daniel Aguiar.

(Des)ligar/(Re)ligar

(en)volto no verso travesso
sentindo o momento, tropeço
só mais um passo
atravesso
do outro lado o que houve
da esquina me (des)peço

Não olhar para trás
como?

Daniel Aguiar.

domingo, 1 de maio de 2011

Circo e Circo

Maria não quer se importar.
A louça enche a pia.
A sala mal varrida.
A casa uma bagunça.
Mas Maria não quer se importar.
O filho com os amigos.
[na rua, dizem que não é coisa boa]
O marido
[que deveria ser o exemplo
Continua a toa. Na boa. Vivendo do dinheiro da mulher.
Mas se questionam,
Argumentam, perguntando o porquê,
A dona nem se irrita,
Não se incomoda.
Ainda convida pra sentar.
É que hoje o time ta em campo...
E Maria não quer se importar.

Daniel Aguiar

terça-feira, 19 de abril de 2011

Igual que ayer

Não digo com precisão o momento onde a paixão arrebatadora ameaçou despedir-se. Nem mesmo sei se ameaça houve. Fato é que certa noite ao repousar meus pensamentos no travesseiro eles não quiseram repousar dentro de mim. Mais de primaveras de amor. Mais de primaveras de carícias salutares. Mais de primaveras e a nova barreira geográfica para nos separar. E eu não conseguia mais sentir aqueles belos olhinhos me procurando por onde quer que eu fosse. E os olhinhos eram os seus. O frenesi, sempre meu. A epifania, ah, essa era de quem se achava em direito. O problema foi o direito. Quem deu direitos ao amor para se apoiar em nós? Mas o amor era ‘nós’. E nós éramos um sonho; realizado. Realizando-se. Acontecendo em juras, promessas e pormenores que saem tão docemente da boca de casais apaixonados. O problema foram os pormenores. Quando não há acordos claros, senão o de amar enquanto o amor houver, tudo soa tão mais razoável... Ledo engano. Lindo engano. Ao menos até se saber tratar-se de um engano. A culpa foi o engano. As emoções gritando alto, rogando para serem atendidas, correspondidas. E não se pode raciocinar os fins quando nos meios se misturam tantos sentimentos. A culpa foi dos sentimentos. Um turbilhão de sensações. Um trilhão de sentimentos. A alegria no ver. O apresso. A inquietação no toque. A tristeza no ‘até logo’. A euforia no ‘estou de volta’. O amor em si. É isso. A culpa foi do amor. E este réu é condenado por intrometer-se em nossas vidas e nelas confundir tudo quanto um dia se pensou ter certeza.
Não. O amor não teve culpa. O amor não traz em si a culpa ou qualquer outro mal. Não na essência. A culpa foi não haver culpa para haver raiva e disfarçar a dor. A dor sim; havia. Houve por muito tempo. Uma dor de dar dó ré mi fá sol... E morrer num choro em sol. Um choro soluçante em mínima pontuada. Dor que só (vi)vendo. Mas assim não fosse, aquilo que era tão belo, com o (contra) tempo deixaria de ser amor. E já não valeria o sonho, pois o que não é amor acaba. E o que se passou terminou, mas sem deixar de existir; posto que sempre há de ser amor.
Tudo estaria bem. Não fosse o vazio que entrara logo que o amor se esvaia.

Daniel Aguiar.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Politicagens

Sem
Café nem pão
Café nem pão
Café nem pão

- Comigo, agora vai melhorar!

Agora sim
Espetáculo e pão
Agora sim
Espetáculo e pão

Ai
Quando me pararam
No viaduto,
Cada panfleto
Era uma promissão
Ai

Vou depressa
Trabalhando
Vou lutando pelo pão
Que a benesse é pra
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente

Daniel Aguiar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Sentidos sem Coração


Cega anda a multidão.
Passos largos denunciam a pressa
Importantes.
Invisível a jornada
[longe de onde se deseja estar
Ouve-se um grito soturno.
-Dê-me pão!
Não há interesse pela questão.
-Dê-me (boa) educação!
O caminhar atrasado não se preocupa.
-Deixe-me brincar com um balão!
O tom pueril não emociona.
Cegos estão.
[Assim, cegos, permanecerão?

Daniel Aguiar

sexta-feira, 25 de março de 2011

Soneto a... Soneto!

Zelo algum prestastes ao que nos havia restado
Laços das mãos desfeitos de repente
No croqui nos pintavam distantes
E logo doíam as pontadas do amor humilhado

Jurei o amor eterno e foram juras
Jurastes eterno amor e foram cruas
No abraço, beijo forte, arrocho, jaziam juras
O olhar, cada minuto, minhas poesias foram tuas

Mas restou o amor corrompido
E a lição que meu peito aprendeu
Não é o fim se tudo está ruindo

Julieta só abandonou o Romeu
É tempo de viver sorrindo
O canto da sereia inda lapido!

Daniel Aguiar.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Ver pra Ser

Que há de se do amor se a valente
Tortura vier lhe abraçar?
Saberá ser homem decente?
Vai de impropérios se armar?

Que há de ser da tortura se a bondade
Um desconcertante beijo lhe der?
Caberá a dor seguir sozinha, e
O martírio à caridade se render?

Que há de ser de mim se a terna
Solidão infeliz vir a deixar-me?
Caberei em teu coração?
Soará o sino – o alarme?

Que há de ser do amor noutro ninho
Noutro seio que leito há de ter?
- Vá viver, já estás crescidinho!
Pra saber enfim que há de ser.

Daniel Aguiar

terça-feira, 22 de março de 2011

Visão da Esfinge

Uníssono coro cantando
Os corpos bailando como um só
É festa, pois cai roaz opressor
Qual em oitenta e cinco,
Oitenta e nove. Qual um muro
Emergindo os escombros em pó

Outros, da dureza imanentes,
Qual Ló ao olhar para trás, estatizam
E vêem-se perversos num reino quimérico
Que ora posto está a ruir

E de longe, da Clássica, ecoa
A ansiada, a tenaz sinfonia
É a leve voz da liberdade
Avisando que trata a toda ligeireza
E traz com ela a amiga alegria

(11/02/2011)
Daniel Aguiar

domingo, 13 de março de 2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Fatuidade Moral

Vaidade moral é pequenice da alma.
É coisa que o coração não precisa.
É remédio na dose errada.
Como uma “bolsa de valores”,
Que de valor não tem mais nada.

Daniel Aguiar.

Noite de Verão (Sonhos de uma,)

Há uma festa lá no alto.
Há uma dança lá no alto,
[e eu vejo movimentos piscados,
Ritmados.
Há grande festa lá no alto
[e o tapete vermelho é azul.
Há linda festa lá no alto
[enquanto aqui me esfrio com o melhor da brisa.
Há uma festa lá no alto
[e eu não vou entrar
sem antes viver mais um pouco dessa linda noite de verão.

Daniel Aguiar.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Face Oculta

Na terra onde as faces se ocultam nos sonhos,
Lugar em que sucesso é bicho cego – e sem bengalas,
Descreio ao pensar
Não acreditar em nada.
E, acabo creditando tudo.
Desfalecendo mudo.
Como se fosse traído.
Como se fosse traíado de smoking,
Onde o traje é esporte fino.

Daniel Aguiar

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