terça-feira, 19 de junho de 2012

A moça e o sorriso


Todo dia ela saia de casa e esquecia um sorriso largado na cômoda. Seguia pela avenida partida por um canteiro (desses que falam de amor em semicolcheias com ligaduras pelos bares). Un cantautor que por una cabeza havia roto um coraçãozinho tímido. Ela seguia, seguia:

-Se guia – sua mãe sempre dizia.

Caminhando ela via passar a vontade, a vertigem, a virtude. A vicissitude. Caminhando ela chegava – essa era a palavra de ordem. E talvez por isso (e só por isso) ela caminhava. Desse jeitinho ela ia chegando onde precisava. No banco. Não no que tem dinheiro. Naquele da praça que tropeçava no pé dela sempre que ela passava. Ali ela ficava. Adormecia olhando o céu, e se lembrava. De quê mesmo? Ela nunca soube, mas se lembrava com lágrima no fosco verde do seu olhar. Fosca era a vida.

Seguia, seguia, e chegava. Trabalhava. Tentava um sorriso do canto da boca, mas nada saía. A cômoda sorria. Gargalhava com a cama. Sapateava na escada. Ou era uma salsa? Ou era um erro? As pernas faziam um laço pra presente e ela tremia. Temia, pois era hora de caminhar. E ela caminhava. Seguia. Sorria?

-Só ria! – os magos na rua diziam.

Era hora de céu alaranjado, AzulOscuroCasiNegro. Ela caminhava. Queria do brilho luar, embrulhar, presente fazer. E talvez por isso (e só por isso) ela caminhava. E sempre chegava. A casa estava lá. O portão, o sofá, o corre-dor, a cama, a cômoda. Ela olhava pro sorriso e pensava:

-Esqueci – tentando se convencer.

Então ela se lavava. Olhava no espelho e se penteava. Ajeitou o sorriso no rosto. Deitou na cama, fechou os olhos olhando para o seu céu. Sorriu. Depois dormiu.   

Daniel Aguiar

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O homem, a lua e a flor...a(m)(d)or


hoje não quero ser seu homem
nem nome hoje eu quero ter
minha flor voou num tufão
de um vento que eu mesmo soprei

e a colorida flor chorando
caiu nas mãos de um jardineiro
moço nobre, fino trato
que repetalou a triste flor

dor de flor dura tão pouco
- a do homem é bem maior
(mas começa bem depois)

e mesmo sem a ver
o homem sente a-flor-ar
voando. E fica (um pouco)
perdido na imensidão do céu

e numa hora ou (e) outra
chorava. Via um longo negro
que nem estrela pont-ilhava

ai ele percebia
que a lua era ela passando amarela
e o sorriso blasé mostrava
a falta que a flor inda fazia

Daniel Aguiar

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