quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Se eu fosse o que quisesse
Seria sujeito preposicionado
[e você posposta.
Cheio de ambiguidades
Sonhando barbarismos
Formarmos um cacófato
(como você)...
Ninguém sabe onde começa/termina.
Ah! Sinto sua sinestesia
[vendo-me superlativo...

Mas sujeito preposicionado
a gramática não deixa.

Terminamos assim
Pois sou um mim
E você mais uma preposição.

Daniel Aguiar

terça-feira, 23 de novembro de 2010

SE VOCÊ SOUBESSE O QUE PASSA
NA MINHA CABEÇA
PASSAM COISAS QUE 'VOCÊ NEM QUEIRA IMAGINAR'

SE VOCÊ SOUBESSE O QUE PASSA
NA MINHA CABEÇA
PASSAM COISAS QUE EU TEIMO INVENTAR

SE VOCÊ SOUBESSE PASSAR
PELA MINHA CABEÇA
SÓ PARA VER SE ESTOU BEM

SE SOUBESSE (SE QUISESSE)...
PODERIA LHE DIZER
MAS PASSAM TANTAS COISAS
NA MINHA CABEÇA
QUE EU SINTO ENXAQUECA

Daniel Aguiar

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Poesia Cuspida

Essa tarde, enquanto passeava pelo parque, algo me incomodava. Eram uns restos de poesia que não degluti, e cuspo agora no chão. Sem a menor pretensão. Mas um ato inconseqüente.
Afinal, logo passa alguém, pisa nas frases e as leva em seu sapato.
Ao chegar em casa esse alguém limpa os sapatos no tapete onde o cachorro costumeiramente dorme. Pela manhã o cão saúda o carteiro latindo meus versos de amor, que grudam na bolsa com correspondências. Ao sacar um envelope para deixá-lo numa caixa de correio, o rapaz esbarra-o nas letras soltas grudadas na bolsa. A pessoa que recebe a carta – e a esperava aflita – não consegue entender, mas sorri. Ela esperava, e na verdade era assim, que as folhas trouxessem escrito um desabafo do namorado, cansado das pressões e também da carência da namorada. Além claro de esperar que o bilhete deixasse claro o fim do relacionamento. Porém, as letras se reorganizaram. E os olhos aflitos puderam ler uma das mais belas declarações de amor e juras de eternidade.
O irmão mais novo da moça encontrou a carta e decidiu extrair alguns trechos para tentar a sorte com uma aspirante a namoradinha. Foi uma festa de prosa, poesia e adolescência. Após transcritas, as letras brincavam entre si. O amor iminente (coisa de adolescente) sofreu mudança quando um ‘e’, no pique-pega, derrubou e tomou o lugar do primeiro ‘i’.
A cartinha foi entregue e com ela a poesia foragida continuava a menear, e logo que o papel foi solto na mesa, as letras saltaram para outra folha – um contrato, do pai da menina.
Dessa vez os sinais gráficos saíram do limite. Mexeram em coisa importante. E foi apenas o primeiro grande passo. Agora, sem escrúpulos os antigos versos, calmos e aconchegantes, representavam um grande perigo, e seria questão de tempo até convocarem uma guerra mundial.
Mas isso é história para outras palavras a deglutir. O melhor agora é juntar a poesia do chão, retorná-la à boca e engolir com água. Antes que passe alguém e as leve nos pés.
Aliás, a tarde não está muito boa para poesia.

Daniel Aguiar

quinta-feira, 15 de julho de 2010

[microconto] APAGÃO!


A noite já se fez.
A dona beijou o filho, o casal vai jantar fora e, pelo adiantado da hora, o senhor foi se deitar. De repente escureceu mais do que devia. Um apagão. Seria um acontecimento irrelevante, se estivéssemos relatando algo irrelevante. Mas falamos da ausência de luz, e nela as pessoas se transformam. E como se ao erguer da escuridão as jaulas fossem abertas e como bem se sabe o outro lado figura-se num belo convite.
No primeiro momento as pessoas evitam qualquer movimento. Não se sabe se por medo do escuro por cautela antes de deixar fluir seus instintos bizarros.
Aos poucos a pequena cidade surge à meia-luz, ou menos que isso, afinal são apenas as duas ou três velas que estavam guardadas no fundo da despensa de cada uma das casas dali.
Passado um tempo, os que se debruçam na janela para viver um pouco de noite medieval têm suas visões testadas. Passo por passo já contabilizam umas quatro ou cinco pessoas que passaram até então. A maioria aos gritos. Libertadores. Imaginam-se executivos jogando malas para o alto e mudando a voz para maldizer o superior sem se identificar. Mas não. A primeira que passou era a dona, que pusera o filho ainda a pouco para deitar, e agora, dada à situação ia encontrar-se com o ex-marido, com quem na justiça brigava por conta do divórcio, mas nos braços, ainda que parecesse briga, era amor incendiário.
No caminho pelo qual passou a dona, em uma das calçadas, o casal que se preparava para sair preferiu botar duas cadeiras para fora e aproveitar o luar. O rapaz, encantador, tentava sonetos para a mulher, que com um costumeiro sorriso – a única coisa que o rapaz conseguia enxergar no momento – buscava a face do amado para beijá-lo.
Quanto ao senhor, a escuridão lhe devolvera no mínimo vinte anos. Estava na praça, e sentindo cheiro de mulher disparava cortejos dos anos 20.
Depois passaram alguns garotos que gritavam aterrorizando as pessoas de bem (não que os meninos também não o fossem. Mas pelo menos, não estavam) que imaginavam suas casas sendo salteadas em meio à escuridão, e quando voltasse a energia encontrariam apenas a bacia de comida do gato – que também havia sido levado, confundido com um chiuaua.
Bastaram sete minutos de breu para todos os carros com equipamentos sonoros sofisticados, ou não, concentrarem-se na pracinha da cidade. Uma balada ao ar livre. Sem o principal, as luzes de neon. E com um coro em uníssono de mães que percebiam a falta de seus filhos em casa e em vão gritavam: Volta aqui menino!
Uma experiência que mudara toda a logística pacata e ética daquele lugar – pelo menos naqueles instantes.
A ausência de luz invocou um impulso responsável pela criação e libertação de ânsias, desejos, e palavras nunca ditas, que com o tempo transformaram-se num algo estranho e, na escuridão, apresentava-se ao público. Um efeito contrário a inocência revelada à passagem da banda*.
Mas logo a luz da cidade reacendeu e tudo voltou ao normal.

. Daniel Aguiar


Para entender melhor(para quem não sabia):
*“A banda”, música de Chico Buarque, que conta a reação de uma cidade ao ver passar a banda “cantando coisas de amor”. Segue link da letra.
http://letras.terra.com.br/chico-buarque/45099/

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dica da Semana


(Teatro)Gota D'água - Chico Buarque / Paulo Pontes

"Dividida em dois atos, Gota d'Água espelha uma tragédia urbana, banal nos grandes centros, nas favelas do Rio de Janeiro, onde está ambientada; os sets retratam um botequim, local de encontro dos homens e, ao lado, o set das lavadeiras, onde as personagens femininas conversam. No set da oficina, está o velho Egeu, e onde passam alguns amigos.

Retrata as dificuldades vividas por moradores de um conjunto habitacional, a Vila do Meio-Dia, que na verdade são o pano-de-fundo para o drama vivido por Joana e Jasão que, tal como na peça original, larga a mulher para casar-se com Alma, filha do rico Creonte." (wikipedia)

O texto é envolvente e nos coloca como se observássemos de perto cada situação apresentada. A vontade que dá é de, ou chamar os amigos e montar a peça, ou procurar onde ela está sendo encenado e ir conferir. Além disso, o tema é contemporâneo e nos apresenta uma sociedade nada distante da nossa.

Uma obra prima dos mestres Chico Buarque e Paulo Pontes.

Número de Paginas : 174
Publicação : 1998


No youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=sqBN4EsQT1g (Bibi Ferreira em cena/comentários de Chico Buarque)

http://www.youtube.com/watch?v=cUSXdx05Yeo (Chico Buarque canta Gota D'água)

Dica da Semana 2

"O wikiHow é um projecto de escrita colaborativa para produzir o maior manual de como fazer do mundo."
Essa dica é mais a título de curiosidade. Vale a pena procurar como fazer coisa inusitadas, engraçadas e até mesmo práticas como sugerem alguns artigos, como por exemplo "Como Terminar uma Discussão em Trinta Segundos".

Visitem!
http://pt.wikihow.com

Dica da Semana


O CRIME DO PADRE AMARO(FILME.2002)

Elenco: Gael García Bernal, Ana Claudia Talancón, Sancho Gracia, Angélica Aragón, Luisa Huertas, Ernesto Gómez Cruz.

Sinopse

O jovem padre Amaro (Gael García Bernal) acaba de ser ordenado e em breve irá para Roma continuar seus estudos, graças à boa relação que mantém com o bispo. Antes, contudo, deve trabalhar em uma paróquia. Ele é enviado para Los Reyes para atuar sob as ordens do padre Benito (Sancho Gracia), o vigário que aparentemente vive uma existência corrupta e contraditória. Lá Amaro conhece a linda e devota Amelia (Ana Claudia Talancón), filha de Sanjuanera (Angélica Aragón), dona do restaurante mais importante da cidade e amante do padre Benito. Diante do mundo real, Amaro é confrontado com a hipocrisia da Igreja, que condena as guerrilhas mas convive com chefes do tráfico de drogas.

EXCELENTE!

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