sexta-feira, 2 de julho de 2010

[microconto]UM BREVE RELATO DE AMOR (começo/meio/FIM)

Mais uma vez sem êxito o sol tentou me despertar. Já não era necessário. Vigiei a lua toda a noite e pus as estrelas para dormir contando mais uma vez minha, mal resolvida, vida amorosa.
- Um amor feito balanço de brisa – dizia eu.
Aproveitei a deixa luminosa para me levantar e tomar meu desjejum.
Um copo de suco de graviola de ontem e um pão dormido – que em seu leito certamente descansara mais que eu. Parecia a primeira refeição daquele mesmo dia em que a encontrei - com olhos de Eros.

Como já tocamos no assunto aproveito para relembrar essa história e compartilhá-la como vocês. Aliás, ter outro alguém além de estrelas para conversar é bom (não sendo você Bilac).

Omitindo o período que compreende o primeiro encontro e o cultivo da amizade, começo ressaltando que já não podia conceber a idéia de tê-la tão perto, e ainda assim, tão longe de mim. Meu coração sentia-se feito cego quando não a sentia próxima. A impaciência tomava meu ser à espera de vê-la.

Não estou abusando do lirismo. Mas não há outra forma de discorrer sobre amor sem amor.

Aos poucos meu olhar encontrava-se com o dela e nos enamorávamos, ou melhor, eu a enamorava até então.
Quando já não podia mais agüentar, decidi ser mais claro, e valeu-me Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. Mandei para ela um e-mail com seguinte conteúdo:

“Se você quer ser minha namorada
Ai que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ter
Você tem que me fazer
Um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber por quê
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem de ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois”

Aceita?

O resultado foi uma visita à sua casa, um discurso paternal, e o primeiro de muitos beijos apaixonados.
Durante todo esse tempo juntos, o tempo foi mais valorizado, e cada minuto parecia uma eternidade, impossível de ser contado – e nem tínhamos a pretensão.
Mas toda a tranqüilidade primitiva parecia ser interrompida pelos percalços que se revelavam. Tempo, distância, por momentos até mesmo falta de querer compreender, e a concessão que não fazia parte da iniciativa de nenhum dos dois.

Por vezes nossa seqüência lógica fora: Juntos. Separados. Juntos. Separados. Juntos. Separados. Separados. Juntos. Separados. Separados. Separados. Jun...
E então, aquele encanto, que eu quis negar um tanto, mas lutei para concretizá-lo, figurava-se em algo que escapava da minha ordem.
Assim, por dias hesitei em lhe dedicar poesias como de costume, e mesmo sem querer escrevia sobre nós.

Cessam as palavras, permanecem as ações.
Talvez meus dedos corram, tendo uma caneta em poder,
E então...Acontece, não posso os controlar.
E eles não são os únicos que fogem do meu controle.

Já lhe dei a menina do sorriso, do olhar, de meus anseios.
Já imortalizei o momento em palavras, e
Regozijaria em tê-lo imortal em um beijo,
No suprimo do desejo.
Por nós


E envolto em meus manuscritos não pude perceber sua retirada à francesa. E já era tarde.
Por mais problemas que houvesse nossa combinação era forte, e por isso, talvez, até as força da natureza pelejaram para quebrar algo que seria mais belo que elas.

E hoje, na solidão, como dizia Tom Jobim, “ainda custo a entender como o amor foi tão injusto a quem só lhe foi dedicação.”

Devo confessar, contudo, que, ainda ontem, resistindo à madrugada me surpreendi tecendo mais uma declaração para nosso grande amor. E não espero resposta imediata. Na verdade nem sei mesmo se aguardo alguma resposta. Mas que fique registrado:

Passou assim por mim – que nem me viu -,
Mas eu olhei, e foi só o que bastou para eu decorar o que sempre sonhei.
Enfim, eu te encontrei.

Mais perto de você eu preciso estar,
O seu perfume eu quero sentir.
Todos os teus dias eu prometo alegrar.
Prometo amar-te e lhe fazer feliz.

Ter o teu amor será o meu prazer, e
Todo o meu amor lhe entrego. É teu.
E a todos eu direi, em alta e sonante voz:
“Eis a minha menina, o meu eterno amor,
Que é terno, ardente, novo, e alumiado”.

E com grande certeza, sempre lhe confirmarei:
“Sou teu fiel, singelo e eterno amante”.
Por ti a cada novo dia,
Eu sempre me apaixonarei.

Por nós.


Talvez algum dia chegue até você essa última declaração. Talvez.

O cansaço toma meu corpo. É Morfeu que não me visitava a tempos e anuncia sua chegada. Mas eu, como de costume, reluto.
Nessa hora o sol invadia meu quarto quando eu ainda insistia com as estrelas:
- Um amor feito balanço de brisa.

Daniel Aguiar

2 comentários:

  1. tanto talento guardado, finalmente exposto, para cada pessoa que aqui passar. Palavras, sentimentos. Todos revelados em textos e contos de muitíssimo bom gosto e pura sensibilade.

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  2. to aqui hein, agora como seguidora dos seus textos e palavras. me surpreenda! hahaha beijo!

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